Do Diário do Comércio
O ex-presidente Michel Temer defendeu a adoção do voto distrital misto, durante palestra na Associação Comercial de São Paulo (ACSP). A proposta, que deve voltar ao debate no Congresso, é baseada no projeto do ex-senador José Serra. Pelo modelo, o eleitor faria duas escolhas: um candidato do seu distrito e um partido, combinando o voto majoritário distrital com o proporcional.
Para Temer, este sistema evitaria situações em que políticos com votação mínima assumem cargos por causa do coeficiente eleitoral. “Na Câmara, quando Enéas Carneiro foi eleito com mais de 1 milhão de votos, levou outros deputados. Um deles tinha apenas 285 votos”, lembrou. Ele citou ainda casos de candidatos com mais de 30 mil votos que ficaram de fora.
Segundo o ex-presidente, o voto distrital misto fortaleceria os partidos, que perderam relevância e se tornaram apenas “siglas partidárias”. “Os distritos passam a ser representados e a população saberá com clareza em quem votou”, afirmou. A proposta tem apoio da Rede de Associações Comerciais.
Críticas ao tarifaço
Temer também comentou o aumento de tarifas imposto por Donald Trump às exportações brasileiras. Para ele, a medida reflete o distanciamento político-ideológico entre Brasil e Estados Unidos, no governo Lula.
Segundo Temer, contribuíram para o desgaste: o apoio do presidente brasileiro à candidata democrata Kamala Harris, a falta de diálogo com Trump desde a posse, a defesa de regimes de esquerda e a proposta de substituir o dólar por uma moeda dos Brics. “Os EUA sempre foram próximos do Brasil. O correto seria Lula ter visitado Trump, logo após a posse”, afirmou.
O ex-presidente disse ainda que o episódio com Jair Bolsonaro serviu de pretexto para o que chamou de “castigo econômico”, mas ponderou que a família Bolsonaro mantém prestígio com Trump.
Sobre a aplicação da Lei Magnitsky e a retirada de vistos de ministros do STF, Temer considerou uma medida “exagerada”, pois a lei é voltada a corruptos e violadores de direitos humanos. “É inviável um Estado estrangeiro impor decisões à Suprema Corte brasileira”, afirmou.
Ele criticou a inação do Legislativo diante da crise. “Não basta enviar comissões. Os presidentes da Câmara e do Senado deveriam ter buscado diálogo direto com os parlamentares norte-americanos. Por enquanto, não vejo saída para o tarifaço”, disse.
Desarmonia entre poderes
Temer também alertou para a desarmonia entre os poderes, citando o caso do decreto do IOF suspenso pelo Congresso e depois judicializado. “Para governar, é preciso manter boa relação com o Legislativo, que aprova os projetos”, ressaltou.
Ele criticou a polarização entre direita e esquerda, defendendo que o foco deveria estar nas propostas e seus impactos para a sociedade.
O encontro contou com a presença do presidente da ACSP, Roberto Mateus Ordine; Rogério Amato, coordenador-geral do Conselho Superior da ACSP e conselheiro da Facesp; e Alfredo Cotait, presidente da Facesp e da CACB.
Fonte: Diário do Comércio | Fotos: Cesar Bruneli/ACSP