Do Diário do Comércio
O acordo Mercosul-União Europeia (UE), finalmente assinado no dia 6 de dezembro após mais de 25 anos de negociações, pode gerar grandes oportunidades de negócios para exportadores e importadores brasileiros, dizem especialistas em comércio exterior.
Embora ainda dependa de aprovação de alguns países envolvidos, pois tem enfrentado rejeição de sete das 27 nações do bloco europeu, o acordo já é considerado um marco nas relações comerciais globais, criando uma das maiores áreas de livre comércio do mundo: juntos, Mercosul e UE reúnem cerca de 718 milhões de pessoas e economias que, somadas, alcançam mais de R$ 22 trilhões.
Segundo o CECIEx (Conselho Brasileiro das Empresas Comerciais Importadoras e Exportadoras), parceiro da SP Chamber of Commerce da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), essa área de livre comércio pode permitir que as economias envolvidas reduzam a dependência de mercados tradicionais, como China e Estados Unidos.
Nas palavras de Ruy Magalhães Neto, vice-presidente do CECiEx, o acordo deve gerar maior competitividade, abertura de novos mercados internacionais com menor custo de entrada e integração em cadeias produtivas globais mais verdes e inovadoras.
Em sua avaliação, o impacto sobre o comércio exterior brasileiro não se limita à simples redução de tarifas; espera-se, por exemplo, uma possível modernização dos processos produtivos no Brasil, induzida pela concorrência europeia e pela necessidade de atender a padrões mais rigorosos de certificação, rotulagem e sustentabilidade.
"A inserção em cadeias globais de valor poderá ser mais intensa, impulsionando a diversificação de produtos exportados, reduzindo a vulnerabilidade do país a choques externos e ampliando o leque de parceiros comerciais, além de diminuir a dependência de mercados específicos", reforça.
Entre os pontos que podem ser vantajosos e alavancar as trocas comerciais, conforme destaca, está a eliminação tarifária: mais de 90% das tarifas de produtos entre blocos serão eliminadas, reduzindo custos e aumentando a competitividade. "Setores como agricultura, tecnologia e bens industriais terão maior acesso aos mercados internacionais", afirma.
O fortalecimento do setor agrícola deve beneficiar pequenos produtores, já que exportadores do Mercosul, especialmente no Brasil, poderão aproveitar quotas ampliadas para produtos como carne, soja e frutas, que terão menos barreiras tarifárias.
A modernização da indústria também está prevista, já que as empresas brasileiras terão acesso a novas tecnologias e cadeias produtivas europeias, acelerando a inovação e a eficiência no mercado local.
Outra vantagem são as parcerias estratégicas no setor de serviços, incluindo telecomunicações, finanças e transporte, setores que terão melhor acesso aos mercados europeus.
Além disso, o acordo traz à tona questões regulatórias complexas, como o reconhecimento mútuo de normas sanitárias e fitossanitárias, a proteção de indicações geográficas e a observância de padrões laborais e ambientais robustos. "A adoção de padrões europeus poderá impulsionar o cumprimento de normas internacionais, ampliando o valor agregado dos produtos brasileiros e diferenciando-os da concorrência global", destaca Magalhães Neto.
Há ainda os compromissos de sustentabilidade: metas como o fim do desmatamento até 2030 e adesão ao Acordo de Paris reforçam a necessidade de alinhar os negócios aos padrões globais de responsabilidade ambiental. "Isso será um diferencial competitivo, especialmente para acessar mercados exigentes como o europeu", sinaliza.
PRONTAS PARA EXPLORAR NOVOS MERCADOS?
Nesse contexto, haverá desafios, principalmente para as pequenas empresas, como entender e se adaptar às normas regulatórias complexas da UE, bem como à alta exigência de qualidade, rastreabilidade e certificações.
Mas isso pode se converter em oportunidade de valor agregado, ao posicionar produtos e serviços em nichos de mercado mais lucrativos, explica o vice-presidente do CECIEx.
Para isso, será preciso também investir em capacitação e treinamento, com o suporte especializado de organizações como o Sebrae, a Apex, confederações da indústria (CNI), do agronegócio (CNA) e do comércio (CNC).
Quanto à análise de mercados, negociação e operacionalização dos processos de importação e exportação, com as comerciais importadores e o CECIEx, assim como a SP Chamber, da ACSP, que já têm contatos comerciais internacionais desenvolvidos e qualificados, e profissionais com know-how que prestam serviços de comércio exterior. Também há no mercado serviços de terceirização desse tipo de operação, caso seja necessário, lembra o vice-presidente do Conselho.
"A necessidade de profissionalização, digitalização e aprimoramento da logística serão aspectos-chave. A competitividade exigirá eficiência operacional e capacidade de agregar valor, fugindo da simples exportação de commodities."
Para a Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) e a Facesp, a previsão de que o acordo seja benéfico para os empreendedores brasileiros é "enorme". Segundo Alfredo Cotait Neto, presidente da CACB e da Facesp, a cadeia de produção de diferentes setores, com reduções em taxas e impostos, vão refletir no consumidor final, gerando atrativos para empreender ainda mais no comércio exterior e, consequentemente, estimulando renda e emprego no país.
"A CACB e a Facesp seguem atentas aos próximos passos, certa de que é preciso muito diálogo e diplomacia, ainda mais quando se trata de um acordo envolvendo tantas economias", diz Cotait. "Os empreendedores brasileiros estão prontos para atender à UE, e que venha a abertura de novos mercados: é assim que temos que agir em tempos de globalização."
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