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'Vejo hoje uma ACSP muito mais voltada para a educação e inovação', diz Cotait

Notícias 07 de dezembro de 2022

Do Diário do Comércio / Por Karina Lignelli

'Vejo hoje uma ACSP muito mais voltada para a educação e inovação'
 

O ano de 2022, que marca os 128 anos da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), também será o último da gestão Alfredo Cotait Neto. Nos quatro anos à frente da entidade considerada a porta-voz do micro e pequeno negócio no Brasil, o dirigente colocou a ACSP na era da governança corporativa.

A proposta de adotar um modelo baseado em compliance, seja para se adaptar às mudanças socioeconômicas, ou aos avanços tecnológicos do varejo, já traz bons resultados. Entre eles, a abertura de capital da Boa Vista, empresa da holding ACSP que nasceu do pioneiro SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) e se tornou um unicórnio (startup com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão).

“E estamos instituindo novas empresas para poder investir e obter retorno por meio de dividendos, para reforçar a nossa parte institucional”, explica Cotait.

Ou seja, ao manter a sustentabilidade financeira, a ACSP garante também independência em seus posicionamentos e ações, pois não depende de verbas do governo.

Engenheiro civil de formação e ex-senador da República, a partir de 2023 Cotait se dedicará à Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB). Ele afirma que levará a expertise adquirida à frente da centenária ACSP para profissionalizar associações comerciais em nível nacional.

A seguir, confira o bate-papo de Alfredo Cotait Neto com o Diário do Comércio, no qual ele faz um balanço de sua gestão e sinaliza os próximos passos para a evolução da ACSP: 


DC – O senhor concretizou um processo de modernização da ACSP. Como o senhor definiria a entidade hoje?

Uma gestão não pode ser simplesmente uma arrumação administrativa. Tem que ter um projeto. Quando nós assumimos, eu tinha um projeto que cabia em uma folha. Mas ele avançou. Agora eu enxergo a ACSP muito voltada para duas áreas importantes: educação e inovação.

Se você perguntar sobre a continuação desse projeto, digo que ele não está totalmente pronto, mas quase completo. As 15 distritais ficaram todas arredondadas, o comércio exterior (pela SP Chamber of Commerce) está com outra formulação. O projeto para o nosso setor de varejo não conseguimos concluir ainda, porque eu gostaria de criar uma NRF (maior feira de varejo do mundo) brasileira, mas continuamos com essa proposta. Os conselhos da ACSP foram reorganizados, nossas empresas estão andando. Só que agora é preciso dar a esse projeto um outro caráter, uma outra visão, de educação e inovação, que passam a ser a base dessa continuidade.

A ideia é fortalecer a parte educacional. Mas quando falo em educação é do tipo lato sensu, onde a faculdade é só uma parte desse processo, que de forma geral inclui profissionalização, educação financeira. Porque temos um sistema formado por uma rede de associações, mas para que funcione, precisa de colaboradores que estejam mais bem preparados para fazer parte desse contexto. 

 

DC - E quanto à inovação?

Temos que continuar prestigiando esse tema, nos digitalizar, e criar mecanismos de penetração maior no mercado através de plataformas que atinjam o nosso associado, que levem a informação para mais próximo de onde ele estiver. Mesmo com todo o sucesso, sabemos que temos falhas, e uma delas é nessa aproximação. A atuação dos associados não é só física, é digital, meio pelo qual pretendemos levar tudo o que a ACSP tem a oferecer, ganhando amplitude de atuação.

Mas são coisas que têm de ser melhor exploradas. A ACSP se modernizou, só que nessa parte de inovação e digitalização ainda temos muito a fazer.  

 

DC - A ACSP se tornou uma holding de sucesso. Uma das empresas, a Boa Vista, virou unicórnio. O senhor disse anteriormente que o objetivo era fazer com que todas andassem pelas próprias pernas. Isso já acontece?

A unidade que cuida das empresas tem conseguido bons resultados. As empresas têm performado muito bem, e estamos caminhando para uma evolução do nosso pool. Primeiro, criando cada vez mais valor nas empresas já existentes. Segundo, instituindo novas empresas para aumentar o nosso parque, cujo objetivo único é poder obter retorno através de dividendos para a manutenção da parte institucional.

Claro que todo esse investimento não é de curto prazo, precisa de maturação. Por isso a gente investe nessas empresas, criando valor no trabalho de cada uma delas, para captar esse retorno mais à frente. Enquanto isso, elas vão rendendo, e algumas delas já distribuem dividendos. Estamos muito satisfeitos com a evolução das companhias que fazem parte do grupo ACSP, e já preparando novas, com foco importante nos próximos passos a serem dados. 


DC- O senhor pode adiantar quais seriam essas novas empresas?

Posso dizer que uma delas terá o papel de fortalecer a rede de associações comerciais pelo Brasil, sendo uma empresa com foco nacional. O objetivo é melhorar a forma como essas associações atuam em todo o país, para que possam não só oferecer serviços para os associados, mas se aprimorarem na parte institucional e em sua profissionalização. 

 

DC - A FAC-SP é uma conquista da sua gestão. Qual a importância da capacitação para o profissional do varejo, e como o senhor visualiza o futuro da faculdade?

A FAC surgiu porque vimos a necessidade de o sistema varejo oferecer uma oportunidade para que comerciários pudessem conhecer melhor as novas formas de se fazer negócios - por meio do e-commerce e das plataformas digitais. Então ela nasceu com a característica clara e única de visar profissionalização para esse novo comércio.

Mas por que ela se distingue? Porque é focada, e porque o corpo docente não é só de acadêmicos. São professores e professoras que atuam no mercado de trabalho, conhecem o seu dia a dia, e levam para os alunos experiência e uma preparação muito mais rápida. Em resumo, é uma faculdade que requalifica comerciários para a era digital. 

 

DC - Uma demanda importante dos empreendedores é o crédito. A ACCredito quer virar um banco digital de amplitude nacional. Como atingir esse objetivo?

O projeto da ACCredito passou por um processo de inscrição, regularização e aprovação no Banco Central, e por isso tem uma série de itens de governança muito rígidos. Eles fazem com que essa empresa seja um pouco limitada no seu crescimento e, por isso, precisa de muito capital próprio para crescer. A ideia do banco digital é ampliar sua atuação (para pessoas físicas e jurídicas), e obter recursos de terceiros.

A empresa está indo bem dentro da equação do projeto original, já está criando valor. E agora nós fizemos um acordo para trazer o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles para ser o chairman (presidente do conselho) da nova ACCredito. Há um projeto que está sendo elaborado e discutido com sua participação, para essa transformação em banco. Aí sua atuação não ficará restrita ao [empréstimo para] micro e pequeno negócio. 

 

DC - Fale sobre a ampliação do CMEC, presidido por sua esposa, Ana Claudia Badra Cotait, e se esse Conselho influenciou o processo de modernização da ACSP:

Nós detectamos, muito no começo, a falta da presença feminina empreendedora na ACSP. E conversei com a Ana Claudia, que tinha experiência como servidora no Senado Federal, para repensar a atuação do Conselho da Mulher aqui na ACSP.

Habilidosa, com dinamismo e talento próprio, ela passou a criar times juntando as mulheres dos Conselhos espalhados pelo estado de São Paulo inteiro, a ponto de ter virado referência em nível nacional. Também foi convidada a participar do Ministério da Economia como representante da sociedade civil, e indicada para integrar o G100 (grupo global de 100 mulheres líderes) como uma das principais influenciadoras do mundo pelo trabalho em prol do empreendedorismo feminino. 

Nós detectamos a necessidade, mas o trabalho e os méritos são todos dela e do seu grupo. Só esse sucesso já é uma modernização: sempre foi um erro achar que o empreendedorismo da mulher é um, e o do homem é outro. A mulher é tão geradora de emprego e renda quanto o homem, mesmo em níveis e situações diferentes. E na pandemia isso ficou ainda mais claro. Não há dúvida de que elas podem assumir qualquer cargo ou responsabilidade exercidos por homens. 

 

DC - Nesses quatro anos, o senhor visitou as associações comerciais espalhadas pelo estado de São Paulo em busca de uma integração maior da rede ligada à Facesp. Como sua gestão encerra esse trabalho?

Acho que não havia uma percepção adequada dos dirigentes sobre a necessidade e a importância de as associações menores receberem uma atenção, um cuidado maior. Isso nos deu uma visão muito ampla não só da atuação delas pelo estado, mas também sobre como essa rede estava realmente estruturada. Com o projeto Pfor, que é o plano de fortalecimento das associações comerciais, tomamos a decisão de investir R$ 65 milhões em cinco anos para fortalecer as pequenas, que aí sim poderiam compor uma rede junto com as maiores.

Esse projeto deu uma unidade maior, e por isso hoje temos uma rede muito bem constituída em São Paulo. A tendência agora é algumas pequenas se tornarem médias, e as que não conseguirem vamos reavaliar. Não será com todas, mas como boa parte está crescendo, em cinco anos se tornarão associações médias do ponto de vista do seu posicionamento na rede.

 

DC - Dá para dizer que é um trabalho de expansão da rede?

Sim, mas é expansão de tamanho, não de quantidade. Vamos reduzir, e quem mostrar não ter condições de sobreviver, recomendaremos, em último caso, se desfazer ou se unir com outras.

 

DC - O senhor assumirá a CACB. Baseado nos aprendizados e conquistas à frente da ACSP e da Facesp, como será o trabalho de profissionalização das associações comerciais em âmbito nacional?

O mesmo modelo e conceito que geramos no estado de São Paulo vamos levar para o âmbito nacional, só será um pouco mais complexo, porque cada estado, cada região, tem sua cultura, suas particularidades e suas peculiaridades. Ainda estamos acertando muitas questões internas, costurando melhor a rede pois ela está meio truncada. Por ser uma rede, precisamos de 'caminhos livres' para transitar e integrar informações, serviços e produtos. Mas também fazer um diagnóstico de quantas somos, e qual o tamanho e o potencial de cada uma - ou seja, um retrato real da nossa rede em nível nacional. Esperamos até o começo de 2023 estar com tudo isso delineado, para começar então a fazer esse trabalho de reorganização.

 

DC - A luta por uma reforma tributária que desonere a folha, por exemplo, deve continuar na CACB? Qual a importância desta, e de outras pautas do âmbito político-econômico nacional?

Nós estamos elaborando uma pauta que será apresentada pela CACB assim que começar o novo governo. Além da desoneração da folha, a mudança no teto de faturamento do Simples Nacional, uma reforma tributária que não prejudique serviços e comércio, a reforma administrativa... todas estarão na pauta, lembrando que na CACB só poderemos trabalhar propostas em âmbito nacional. 

 

DC - Faça um balanço de suas duas gestões à frente da ACSP e, com base nisso, quais as perspectivas futuras, a curto e médio prazo, para a entidade?

Consegui implementar um bom time para o meu projeto de gestão, que foi implantado e quase concluído, então considero um saldo muito positivo. Fico muito grato por ter recebido essa missão, e espero que esse projeto tenha continuidade, com pessoas que pensam da mesma forma e que tenham as condições necessárias para evoluir essas ideias.

O que me dá muita satisfação nesse projeto que mencionei é a conquista do IPO da Boa Vista, por exemplo. A FAC é outro ponto de grande satisfação: antes havia uma certa discordância interna, mas hoje ela é unanimidade. E tem as novas ideias, como a de acelerar startups, ajudá-las a gerar clientes no mercado. E além disso, fico satisfeito por ter contribuído com o crescimento da rede Facesp e para que a ACSP tenha ampliado sua visibilidade e seu nível de alavancagem.

 

DC - O senhor é um empresário de sucesso, já foi Senador da República. Pessoalmente, quais as lições tiradas do período à frente da ACSP?

Tenho 52 anos de atividade profissional, sou engenheiro especializado em Construção Civil, e o sucesso que tive pode ser medido pela experiência que ganhei junto aos colaboradores com os quais convivi nesses anos todos, incluindo aqueles da gestão na ACSP.

Para ter sucesso na vida profissional e em seus projetos é fundamental entender e compreender a relação com seus colaboradores. Desde quando estava mais próximo da Construção Civil, eu encontrei pessoas de qualificação mais elementar, como pedreiros, mas com capacidade e talento únicos. Se o brasileiro tivesse um melhor nível educacional, mais completo, seria extraordinariamente mais produtivo. Então posso dizer que todos esses colaboradores, até hoje, me ensinaram muito com seus conhecimentos e habilidades. Muito mais até que a academia.

 

DC - O que a ACSP e seus 128 anos representam para o cenário político e econômico do país?

A ACSP, nesses 128 anos, esteve presente em várias etapas da nossa história, cada uma com sua particularidade. Esse retrospecto dá a ela um credenciamento, uma representatividade para falar pela sociedade civil em qualquer fórum, em qualquer circunstância.

Ela é a porta-voz do sistema que envolve o micro e pequeno empreendedor, os maiores geradores de emprego nesse país. Eu sempre digo, para qualquer um que venha aqui, seja secretário de Estado, de prefeitura, ministro, deputado, senador, presidente: nós não queremos pedir nada, nós só queremos ser ouvidos. E o que nos concede essa autoridade [de falar pelos empreendedores] não são só os 128 anos, mas a representatividade conquistada ao longo de nossa história.

 

Fonte:

https://www.facesp.com.br/noticia/vejo-hoje-uma-acsp-muito-mais-voltada-para-a-educacao-e-inovacao-diz-cotait


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