(Des)Aproximação no prata

Os impactos da Argentina para a indústria de calçados de Franca; confira o artigo do economista Adnan Jebailey, responsável pelo Instituto de Economia da ACIF (Associação do Comércio e Indústria de Franca)

As relações bilaterais entre Brasil e Argentina sempre se constituíram em um pêndulo de ideologias políticas. Desde crises fronteiriças, hidrelétricas e rusgas durante o regime militar dos dois países até uma aproximação sólida nos acordos durante a década de 1980 e a iniciação das conversas que consolidaram o Mercosul em uma de suas melhores fases.

Em relação a Franca, quando o assunto é exportação de calçados para a Argentina, as relações políticas não deixam de prevalecer. Para se ter uma ideia, no ano de 2018, a Argentina foi o segundo destino predileto de exportação dos francanos. Entretanto, essa relação nem sempre trouxe bons frutos para Franca – e a principal responsável foi, sempre, a política diplomática.

Durante o Governo Lula 1 e 2 e o Governo Kirchner (Nestor e Cristina), as exportações de Franca para a Argentina cresceram 614,3% - entre os anos de 2002 a 2008. Em função disso, a marea rosa (guinada à esquerda) confluiu a América Latina a governos considerados do mesmo espectro político. O passo fora da cadência fica por conta de Dilma Rousseff que, mesmo durante a continuação do Governo Kirchner, não conseguiu dialogar para manter um crescimento sustentado nas exportações para a Argentina.

Já no ano de 2016, com o impeachment de Dilma, Michel Temer conseguiu estabelecer novos laços de diálogo com o Presidente Maurício Macri, fazendo com que as exportações de Franca para a Argentina crescessem 187% em um período entre 2016 e 2018. Entretanto, o ano de 2019 foi catártico para a Argentina que mergulhou, mais uma vez, em uma crise econômica, fazendo com que as exportações de Franca para tal destino caíssem 69%.

A questão que nos deixa esse artigo é: quais serão os impactos do novo presidente Alberto Fernández para a relação de exportação Franca e Argentina? O descompasso ideológico entre os dois governos talvez dê a tônica do que pode acontecer. Perder um parceiro comercial como a Argentina pode ter impactos bastante negativos na indústria de calçados.

O momento exige que aguardemos o desfecho de tal relação esperando que a Argentina – que como o próprio nome sugere Argent (do francês – dinheiro/prata) – volte a exalar riqueza e uma economia pujante. E que as ideologias fiquem de lado em prol de um desenvolvimento econômico na Bacia do Prata.

Adnan Jebailey

Economista do Instituto de Economia ACIF

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