Do Diário do Comércio
Cerca de 60% dos negócios fecham em até cinco anos. Sem apoio, sem crédito ou políticas públicas, tem quem diga que há muita romantização no empreendedorismo. Ocorre que na contramão de sonhos e oportunidades, muita gente empreende por necessidade. E desde o início da pandemia essa tendência só aumentou, acompanhando o crescimento da taxa de desemprego – especialmente, entre as mulheres.
Mais de 6 milhões de mulheres perderam seus empregos em 2020, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). O resultado é 5% maior que o observado no mercado de trabalho masculino.
Foi com esse pano de fundo que o Women Enterpreneur Forum (WeForum) reuniu empresárias nesta quinta-feira, 17/03, em São Paulo, em um evento organizado pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e seu Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC).
Dentre os temas abordados estavam: políticas públicas e igualdade de gênero; mulheres que movimentam a economia; tendências, inovação e tecnologia no mercado de saúde; instrumentos de inclusão econômica e financeira; e mulheres e inovação.
Para Ana Claudia Badra Cotait, presidente do CMEC, o mercado de trabalho e o cenário empreendedor ainda refletem as desigualdades da sociedade, que aos poucos começa a sentir mudanças estruturais rumo à liberdade financeira feminina. “O dinheiro não pode ser tratado como algo masculino, mas como uma ferramenta que vai trazer nossa liberdade”, diz.
Uma das frentes de trabalho do CMEC, segundo Ana Claudia, é ajudar negócios pertencentes a mulheres a exportar e importar com mais facilidade, especialmente, no universo das micro, pequenas e médias empresas.
Rita Campagnoli, coordenadora do Comex e da SP Chamber of Commerce da ACSP, esclarece que diante das complexidades do processo de exportação, muitas empresárias de menor porte acreditam que a exportação só está ao alcance de grandes companhias.
“Queremos desmistificar e educar sobre o processo de exportação, que é uma janela de oportunidades. Esse olhar de possibilidade é muito importante para que cada empreendedora expanda seu alcance, aumente seu resultado, contrate mais, e assim, invista em sua família e na comunidade onde está inserida”, diz Rita.
Munida de dados, Natália Dias, presidente do Standard Bank Brasil, filial brasileira do maior banco da África, com operação em 25 países, diz que a presença de mulheres ainda é pouco expressiva em cargos de liderança.
Material divulgado pelo LinkedIn, o Informe de Percepção de Gênero, indica que mulheres são mais exigentes ao se candidatar: elas tentam 20% menos vagas que os homens, pois sentem que precisam cumprir 100% dos requisitos solicitados pelos empregadores. A maior parte dos homens, contudo, arrisca com apenas 60%.
Além disso, Natália destaca que poucas conseguem sobreviver dentro desse ambiente e superar estereótipos para alcançar determinadas posições. “Mais do que uma questão ética, corrigir distorções é uma questão econômica. Tem muito dinheiro na mão das mulheres, quem não vê isso tem uma visão de negócios muito curta”, diz.
Para contribuir, Natália destaca que o Standard Bank Brasil definiu como um dos objetivos o aumento da representação feminina em cargos executivos até 2023.
O mesmo objetivo é perseguido pela Volvo. No Brasil, a companhia, de origem sueca, tem políticas próprias, de acordo com Claudia Barcelos Silva, CFO da Volvo Brasil. A presença de mulheres, segundo a executiva, já é uma realidade nas linhas de montagem da fábrica de motores, de ônibus e de caminhões pesados e semipesados.
Diante de um mercado de mecânica automotiva ainda resistente a inserção de mulheres, reverter essa realidade, segundo Claudia, começa com mudanças básicas, como construindo fábricas adaptadas para mulheres. As oficinas mecânicas, por exemplo, ganharam há pouco tempo vestiários femininos - algo que até então só estava disponível para funcionários homens.
Há pouco mais de um ano ocupando a presidência da AES Brasil, Clarissa Sadock quer levar a alta taxa de participação feminina no escritório também para os cargos de liderança na empresa, que ainda é muito pequena.
Uma das ações para que isso aconteça é justamente criar oportunidades para que haja essa ascensão. Com 99% de homens na área operacional, Clarissa acredita no modelo de inclusão. “Montamos uma turma no Senai da Bahia para treinar mulheres. Recebemos mais de 300 currículos, treinamos 30 mulheres e contratamos 13 para nossa operação”, diz.
Com esse programa, Clarissa diz que essa planta, que finaliza sua construção neste ano, será operada exclusivamente por mulheres. O mesmo modelo está sendo replicado em outra unidade do Rio Grande do Norte.
O WeForum contou com a presença de Alfredo Cotait Neto, presidente da ACSP e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), que ressaltou a importância desse evento global de mulheres empreendedoras e líderes. "Quero ratificar o apoio integral da ACSP, Facesp e da CACB ao empreendedorismo feminino. O mundo é da mulher. Não deixem de realizar seus sonhos".
IMAGENS: Daniela Ortiz/ACSP
Fonte:
https://dcomercio.com.br/categoria/negocios/weforum-discute-liberdade-financeira-feminina