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“O não voto não é preocupante”, diz Antonio Lavareda sobre alta taxa de alienação eleitoral

Notícias 11 de outubro de 2016

Em palestra ontem na Associação Comercial de SP, o cientista político falou sobre as taxas de votos branco, nulos e abstinências; pesquisas, Lava Jato e PT também foram temas abordados

São Paulo, 11 de outubro de 2016. Durante palestra ontem na Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o cientista político Antonio Lavareda afirmou que não é preocupante o fato de mais de um terço dos eleitores paulistanos não ter escolhido um prefeito para votar. “O não voto não é preocupante. Essa é uma falsa questão. Nosso sistema político tem dezenas de outros problemas com os quais se preocupar”.

Lavareda é diretor-presidente da MCI Estratégia e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ele participou de sessão plenária da ACSP em conjunto com encontro do Conselho Político e Social da entidade, coordenado pelo ex-senador Jorge Bornhausen.

O cientista político lembrou que, entre 2008 e 2012, a alienação eleitoral (soma dos votos branco, nulos e abstinências) foi de 22,3% para 28,9% na cidade de São Paulo, subindo mais do que os seis pontos percentuais vistos de 2012 para 2016, quando o índice chegou a 34,9%. “Em 2012, não chamou a atenção de ninguém, porque a mídia estava embevecida com a vitória de Fernando Haddad. Ninguém conseguiu identificar que a alienação tinha subido”.

Entre as capitais, as maiores taxas de alienação em 2016 foram em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Lavareda chamou atenção para o índice de Manaus (17,6%), justificado pelo cadastro de biometria praticado na capital amazonense. "Será que a população do extremo norte brasileiro tem uma consciência de participação maior do que o Sudeste? Bobagem. Isso tem a ver com a biometria. A biometria é um recadastramento, ou seja, fez uma limpeza no cadastro eleitoral. Ela expurgou as mortes não comunicadas, eleitores que mudaram, então, ela traz um retrato mais próximo à realidade. E com isso afastamos essa mitologia que surgiu entre a noite da eleição e os dias que se seguiram chamando atenção para o fato da grande alienação, que a maioria dos eleitores de São Paulo não havia votado num prefeito eleito".

Para reforçar sua teoria, o cientista político relembrou que, em 2012, Haddad foi eleito no segundo turno com 39,3% dos votos. "E nenhum jornal estampou a manchete '61% dos paulistanos não votaram no prefeito eleito no segundo turno'. Ou seja, é um não problema".

Rádio e TV: peso

Na avaliação de Lavareda, as alterações na legislação eleitoral resultaram no maior peso da propaganda de rádio e TV. Com campanhas mais curtas e proibição de doações por parte de empresas, restaram aos candidatos a TV e o rádio para se comunicarem com o público. “Essa nova regra fez toda a diferença. Posso garantir aos senhores que, sem essa nova regra, dificilmente João Doria teria se eleito no primeiro turno”, afirmou. Como o PSDB construiu a maior coligação, garantiu também o maior tempo de exposição, permitindo que o candidato saísse de 5% de intenção de votos no início da campanha para vencer no primeiro turno.

“Nunca houve uma eleição em que o tempo de televisão fosse tão importante”, disse Lavareda, destacando não apenas a volatilidade vista em São Paulo, mas também de outras cidades.

Pesquisas

Ainda no entendimento do analista, as novas regras dificultaram a eficiência das pesquisas de opinião, que não conseguiram captar a real intenção dos eleitores.

Com uma campanha mais curta e com maior volume de propaganda, os sentimentos em relação aos candidatos são construídos, segundo Lavareda, às vésperas da eleição. "Isso tem a ver com a questão da volatilidade. Com maior volatilidade, fica mais difícil que a medição do instituto seja usada como prognóstico", disse. “Entre o momento da medição e o exercício da vontade, há uma grande distância, sobretudo, em período eleitoral”.

Ele fez um paralelo com as pesquisas de intenção de compra feitas com donas de casa em supermercado, em que há uma diferença grande entre o que elas têm vontade de comprar e o que realmente compram. "Ou seja, utilizar medição de atitude como prognóstico de comportamento envolve um risco, e as eleições deste ano apontaram que, sobretudo em contextos em que há grande volatilidade dessas intenções, fica muito difícil você especificar preditivamente o comportamento".  

Lava Jato

"Em 2018, o candidato ideal vai ser, entre aspas, acompanhado pelo saldo de informações da Lava Jato", disse o cientista político, completando que o nome mais competitivo será escolhido indiretamente em Curitiba.

Para ele, o PT irá sobreviver às baixas eleitorais que sofreu nas eleições deste ano, mas para isso terá de “resistir à tentação” de lançar o ex-presidente Lula como candidato a presidente em 2018. “A pior opção do PT para 2018 do ponto de vista de reconstrução de sua imagem será resistir à tentação de usar o capital eleitoral do presidente Lula e fazê-lo candidato, porque aí o processo de redefinição de sua imagem será perdido”.  

Para o cientista político, por mais que Lula tenha um eleitorado fiel, não é possível trabalhar o que há de positivo em sua imagem sem que isso evoque também o que há de negativo. Segundo ele, achar um nome alternativo será um dos desafios da esquerda, que se fragmentou e se enfraqueceu nestas eleições. A grande vantagem do PT, disse Lavareda, é o enraizamento que construiu junto a parcela considerável da população.

Ainda de acordo com o palestrante, o primeiro turno foi marcado pela taxa menor de reeleição dos atuais prefeitos e maior fragmentação partidária: há mais legendas comandando prefeituras no Brasil do que em qualquer outro momento da história. Esses resultados, disse Lavareda, devem ser também observados nas eleições de 2018, visto que, historicamente, o que acontece nos pleitos municipais repete-se grandemente nas eleições gerais. 

 

Mais informações:
Renato Santana de Jesus
Assessoria de Imprensa
rjesus@acsp.com.br
(11) 3180-3220 / (11) 97497-0287  

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